Eficiência desde o nascimento: o futuro da sexagem na avicultura
- AVIMIG
- há 1 hora
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Nos bastidores da avicultura, uma revolução silenciosa está em curso. Enquanto os números globais apontam para uma produção de carne de frango que deve ultrapassar 150 milhões de toneladas até 2032, segundo projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os produtores se veem diante de um desafio: produzir mais com menos, mantendo a qualidade, o bem-estar animal e a competitividade.
Entre as diversas etapas da cadeia, uma das que mais sentem os efeitos dessa transformação é a sexagem, processo de identificação e separação de pintinhos machos e fêmeas, logo após a eclosão. Durante décadas, essa rotina foi executada manualmente, exigindo habilidade, precisão e longas horas de trabalho.
“A sexagem manual consiste na observação de uma asa do pintinho, na qual o operador identifica, por meio das penas, pequenas diferenças anatômicas entre machos e fêmeas. A técnica exige treinamento intensivo e prática constante. Cada profissional consegue analisar cerca de 2,5 mil aves por hora, o que faz com que os incubatórios tenham uma grande equipe mobilizada nessa atividade mediante a escala industrial atual”, explicou diretor de Smart Solution para Latam da Ceva Saúde Animal, Giankleber Diniz.
Segundo ele, além disso, trata-se de um trabalho repetitivo e exaustivo: “A fadiga, absenteísmo, afastamentos, lesões, problemas trabalhistas, ergonomia difícil e a variação de desempenho dos operadores durante o dia (cansaço) tanto quanto entre os operadores afetam diretamente a precisão e os custos”.
Em um incubatório de médio porte, o processo manual costuma demandar entre 15 e 20 colaboradores dedicados exclusivamente à sexagem. Muitas vezes, essa equipe pode somar até 45% de todos os funcionários de um incubatório. Com a escassez de mão de obra sendo um desafio comum, torna-se cada vez mais complexo manter uma equipe tão grande dedicada a esse processo, e que poderia ser utilizada para suprir outras funções.
Novas tecnologias
É nesse contexto que novas tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) e visão computacional começam a transformar a realidade dos incubatórios. “Essas soluções identificam machos e fêmeas em segundos, sem a necessidade de manipulação direta e com índices de acurácia superiores a 97%. Além de reduzir custos e erros humanos, trazem ganhos expressivos em bem-estar animal, ao minimizar o estresse logo nas primeiras horas de vida”.
Entre as iniciativas que simbolizam esse avanço está o sistema Genesys, desenvolvido pela Ceva Saúde Animal. “Compacta e totalmente automatizada, a tecnologia realiza a sexagem de pintinhos de corte com capacidade de processar até 50 mil aves por hora em cada módulo, ocupando apenas 5 m² de área. O sistema é não invasivo, se adapta a diferentes linhagens genéticas e pode ser integrado à estrutura existente do incubatório”, explicou Giankleber Diniz.
Mais do que velocidade e precisão, a automação traz uma nova camada de valor: a gestão inteligente de dados. “A Genesys gera relatórios em tempo real sobre produtividade e eficiência, transformando o incubatório em um centro de informação estratégica. Com esses dados, é possível alinhar a sexagem às metas de produção, ajustar manejos e antecipar decisões”, disse ele.
Os efeitos se estendem por toda a cadeia. Lotes mais homogêneos facilitam o manejo nutricional, reduzem a competição por alimento e espaço, e melhoram a conversão alimentar. A uniformidade dos frangos também se traduz em maior rendimento industrial e padronização das carcaças e dos cortes, o que pode gerar ganhos de até 150 dólares por tonelada nos mercados que valorizam regularidade e qualidade, especialmente o europeu e o asiático.
Outro ponto relevante é o modelo de adoção da tecnologia. “A Ceva disponibiliza a Genesys em regime de comodato, no qual o produtor paga pelo serviço de sexagem conforme o volume processado. Isso elimina a necessidade de investimento inicial alto e democratiza o acesso à automação, especialmente para incubatórios de médio porte. A Ceva possui uma equipe técnicos Brasileiros especializados na França para o acompanhamento e assistência técnica a Genesys”, disse o diretor.
Para Giankleber Diniz, ao automatizar a sexagem e integrar dados à gestão produtiva, a avicultura se aproxima do conceito da Avicultura 5.0, para a qual tecnologia, genética e sustentabilidade caminham lado a lado. “O processo deixa de ser apenas uma etapa operacional e se torna uma ferramenta de decisão que conecta o ovo ao frigorífico, garantindo previsibilidade e valor agregado em toda a cadeia”, afirmou.
Mais do que uma tendência tecnológica, a sexagem automatizada representa um novo modo de pensar a produção: a eficiência começa no nascimento. E, à medida que a genética e a inteligência artificial se unem, fica cada vez mais claro que o futuro da avicultura será construído com precisão, desde o primeiro dia de vida.
Dois métodos
“Para a avicultura de produção de frangos corte, o método de sexagem pela cloaca ao nascimento é imprescindível. Atualmente, as principais linhagens que atuam no mercado utilizam-se desse procedimento para obtenção de fêmea matriz reprodutora e macho matriz reprodutor”. A afirmação é do diretor geral da Hubbard do Brasil, Carlos Antônio Costa, que detalhou os atuais métodos de sexagem existentes.
Segundo ele, na produção de frango de corte, a sexagem pode ser realizada por meio de dois métodos: sexagem pela cloaca ao nascer - inviável economicamente devido ao grande volume e aos altos custos - e sexagem pelo crescimento das penas ao nascer, prática rotineiramente utilizada, porque pode trazer ganhos para a atividade com a obtenção da uniformização das carcaças ao abate e, também, a possibilidade de fornecer alimentação diferenciada para cada sexo, já que as exigências nutricionais são distintas.
“O inconveniente dessa prática é a gestão do planejamento de alojamentos e abate. Atualmente, há algumas empresas testando equipamentos para realizar a sexagem via ovo incubado. Os resultados ainda são preliminares e precisam de ajustes com vistas à obtenção de maior acurácia e eficácia”, garantiu Carlos Antonio Costa.
Para o CEO da Innovate Animal AG, Robert Yaman, a implementação da sexagem in-ovo altera processos produtivos ao exigir investimentos em equipamentos específicos e treinamento para garantir rapidez e precisão na identificação do sexo dos embriões. “Embora haja aumento nos custos operacionais, a tecnologia pode reduzir perdas associadas ao abate de pintinhos machos, além de possibilitar o atendimento a mercados que demandam práticas mais sustentáveis e éticas. O ajuste na cadeia produtiva pode representar uma mudança estrutural nos sistemas de incubação e produção”, acredita.





